Esperar não é saber: arte entre o silêncio e a evidência, é resultado da pesquisa do historiador André Mesquita que, a partir da análise de trabalhos de artistas e ativistas, documentos desclassificados, notícias, fotografias e vídeos, reflete sobre a violência praticada como política de Estado e sobre o potencial crítico de ações artístico-políticas ocorridas muitas vezes à margem do sistema de arte. Em primeiro lugar, as múltiplas dimensões da repressão durante as ditaduras no Brasil (1964-1985) e Argentina (1976-1983), ora ocultadas como segredo de Estado, ora tornado públicas como dispositivos de terror e controle social, são discutidas na perspectiva de dois trabalhos: Situação T/T,1 (abril de 1970), de Artur Barrio, em que “trouxas ensanguentadas” são lançadas anonimamente às margens de um córrego em Belo Horizonte, provocando um clima de tensão entre o público e as autoridades em relação àqueles vestígios; e Nosotros no sabíamos (Nós não sabíamos), trabalho de compilação de recortes de jornal iniciado por León Ferrari poucos meses após o início da ditadura argentina e o governo repressivo do general Videla, em que o artista reúne notícias de diários argentinos sobre o aparecimento de cadáveres em lugares públicos, sequestros e pedidos de habeas corpus realizados por familiares de desaparecidos.

Os documentos confidenciais (hoje desclassificados), produzidos durante as ditaduras militares na América Latina e consultados durante a pesquisa de Esperar não é saber, podem ser acessados na página da National Security Archive

Na página de Artur Barrio você encontra fotografias e textos do artista sobre as três etapas do trabalho Situação T/T,1, realizado em abril de 1970

A série completa das colagens de Nosotros no sabíamos está disponível na página de León Ferrari

Em um segundo momento, o livro interpela o legado da ditadura presente na atuação arbitrária de agentes policiais e militares, a fim de discutir o processo de institucionalização das práticas de tortura, assassinato e desaparecimento no Brasil. A pesquisa toma então como ponto de vista o vídeo da artista Clara Ianni e da ativista Débora Maria da Silva (fundadora do Movimento Mães de Maio), Apelo (2014), realizado no Cemitério de Perus (São Paulo), conhecido destino de corpos de militantes torturados e assassinados pelos repressores do regime durante a ditadura militar brasileira. O vídeo mostra a rotina atual do cemitério, onde diariamente são realizados enterros de “indigentes” e prováveis vítimas das muitas facetas da violência do Estado.

Confira o trabalho de Clara Ianni e a página das Mães de Maio. Você também pode acompanhar notícias e campanhas das Mães de Maio na página do movimento no facebook

Realização:
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Esta obra foi selecionada pela Bolsa Funarte de Estímulo à Produção em Artes Visuais 2014
Distribuição gratuita, proibida a venda

André Mesquita é pesquisador das relações entre arte, política e ativismo. Doutor em História Social, é autor dos livros Insurgências Poéticas: Arte Ativista e Ação Coletiva (Annablume/Fapesp, 2011), Esperar não é saber: arte entre o silêncio e a evidência (Funarte, 2015) e co-autor de Desinventario. Esquirlas de Tucumán Arde en el Archivo de Graciela Carnevale (Ocho Libros, 2015).

contato:
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